Escuta ativa: você consegue escutar adequadamente seu paciente?

Escuta ativa é sem dúvida o pré-requisito mais importante para começar a se estabelecer uma interação eficaz, resultando em uma consulta de alta qualidade.
Um médico aperta a mão de uma senhora idosa.

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O que é escuta ativa?

Escuta ativa significa estar presente, atento, e livre de julgamentos perante o sujeito que está diante de você na consulta.

Escuta ativa é sem dúvida o pré-requisito mais importante para começar a se estabelecer uma interação eficaz, resultando em uma consulta de alta qualidade.

Para realizar escuta ativa é preciso ter um item chamado: interesse genuíno pelo ser humano. Uma curiosidade sadia, uma intencionalidade de fazer o bem, e ajudar o próximo.

Não estou falando de caridade. Estou falando de amar aos seres humanos e possuir uma eterna curiosidade por sua diversidade. Sem isso não existe escuta ativa, não existe doação, não existe interação de qualidade.

As 4 características da escuta ativa

Bom, superado esse fundamento, existem quatro características essenciais para que ocorra a escuta ativa: compreensão, retenção, interação e timing.

1. Compreensão

Esse conceito extrapola o simples entendimento do que foi dito (o que dependendo do caso já pode ser difícil). Compreensão nessa lógica é entender que cada palavra pode ter um significado diferente para a pessoa que fala. O contexto geral do que está sendo dito, passa a ser tão importante quanto os aspectos pontuais. Para ser mais claro, é tentar entender o mapa do outro, sem consultarmos no nosso mapa. A compreensão consiste no entendimento da leitura corporal, da intencionalidade, do que não está sendo dito, do tom de voz, etc.  Em posts futuros irei tratar especificamente desses itens, e como podemos treinar para ampliar a nossa percepção.

2. Retenção

Reter o que está sendo dito está intimamente ligado ao interesse pelo que foi dito. Sem interesse não tem retenção. E aqui faço um alerta importante. Alguns profissionais não conseguem realizar uma consulta sem registrar todas as informações simultaneamente à fala, um pouco por conta do hábito, ou por ter um “medo” de não lembrar de todas as informações ditas pelo sujeito em consulta.

Quando você conseguir exercer a escuta ativa, esse medo irá desaparecer. Se você é leitor do blog, não tenho a menor dúvida que tem um interesse genuíno de melhorar cada vez mais enquanto pessoa e enquanto profissional.

Então, caso tenha esse hábito de registrar ao mesmo tempo em que o sujeito fala, experimente-se a exercer uma escuta ativa, e a realizar uma consulta sem registrar tudo. Tente ser mais olho no olho. Em breve falarei sobre como administrar as anotações sem quebrar o rapport.

3. Interação

Além de prestar atenção no contexto e nas palavras que estão sendo ditas pelo outro, você precisa prestar atenção no seu corpo e nos momentos em que realiza intervenções, pois caso não demonstre a abertura suficiente para a fala do outro, você pode fechar portas importantes.

Como melhorar essa habilidade? Uma forma é simplesmente começar a prestar mais atenção em você mesmo durante a consulta. Outra é utilizar o recurso da filmagem. Isso mesmo, filmar algumas consultas suas, com o foco exclusivamente em você, para que você possa perceber como tem se portado, e se fosse seu próprio paciente como se sentiria com relação a abertura.

Caso queira utilizar desse recurso, lembre-se de consultar seu paciente, e pedir uma autorização por escrito. Procure fazer isso com pacientes que já conhece primeiro.

4. Timing

Nada mais é do que saber o tempo exato de interromper, ou de realizar uma pergunta que consiga manter aberto o canal de comunicação. Saber quando aprofundar, quando dar foco, quando avançar, ou quando retroceder.

Sem escuta ativa o seu tempo e o tempo do sujeito ficam desencontrados. O sujeito fica com a sensação que não disse tudo que deveria, ou que não foi ouvido, mesmo que por ventura tenha falado bastante. E o profissional de saúde, sem interesse genuíno, acaba interrompendo muito mais do que deveria, e trazendo as perguntas para aspectos objetivos e menos contextuais.

Conclusão

Bom, exercer a escuta ativa não é tarefa fácil, apesar de parecer simples. Trabalhei esse tema hoje, pois ele é pré-requisito para falar de outros temas que irei trabalhar no futuro que são rapport e a arte de fazer perguntas poderosas.

Espero que tenha gostado do texto. E se tenha gostado, peço gentilmente que compartilhe com seus amigos por meio de suas redes sociais.

E aí, você domina os quatro elementos da escuta ativa? Qual dos quatro é o mais difícil para você? Deixe abaixo sua resposta nos comentários.

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Artigo por

Heitor Tognoli
Médico empreendedor e fundador da Communicare, um software completo para clínicas e consultórios. A Communicare nasceu do casamento entre a paixão pelo cuidado de excelência e pela praticidade que a tecnologia nos oferece. Hoje, ajudamos médicos e demais profissionais de saúde, que atuam em clínicas e consultórios, a revolucionarem a gestão e o cuidado em suas clínicas.
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